Considerando que cada ser humano é essencialmente divino e destinado a se libertar, mais cedo ou mais tarde, das ilusões e limitações dos mundos inferiores, a única atitude que lhe cabe é decidir se começará a se esforçar agora ou se adiará a caminhada para mais tarde. Trata-se de uma decisão muito singular, para quem está envolto em ilusões e misérias de toda espécie; depende apenas de sua própria deliberação. É como se um homem que sofre com uma enfermidade dolorosa tivesse que decidir se deve tomar agora o remédio que o curará, ou se deve tomá-lo mais tarde. Ou como se um prisioneiro precisasse decidir entre se libertar agora, quando os meios de fuga estão à mão, ou deixar a liberdade para mais tarde.
O verdadeiro problema – no caso de todos nós que não estamos dispostos a resolver agora a questão fundamental da vida, que está à nossa frente, e decidimos adiá-la ou tentamos resolvê-la negligentemente, sem nos entregarmos a isso de todo o coração – só pode ser explicado pela falta de percepção da nossa verdadeira situação. A causa real dos problemas é a falta de discernimento, ou viveka, que nos capacita a abrir o caminho através das ilusões e a perceber a vida em sua simplicidade, despida de todas as fascinantes atrações e tentações do mundo. É a falta de um modo de pensar mais profundo, ou seja, a opção por uma vida superficial, que nos leva a prosseguir com as mesmas experiências; a passar pelas mesmas misérias; a nos satisfazer dentro das mesmas limitações; a sacrificar a liberdade, a força, o conhecimento e a bem-aventurança que nos estão destinados, trocando-os por alegrias e confortos passageiros, pelas excitações e conquistas da vida comum.
A maior parte das pessoas com anseios e aspirações espirituais está envolvida em um círculo vicioso, e não sabe como sair dele. Chegamos a pensar que essa condição nos é peculiar, o que demonstra que ainda não estamos preparados para trilhar o caminho do yoga. Geralmente não percebemos que isso é normal; a grande maioria dos aspirantes precisa começar desse ponto, para sair desse círculo vicioso. Apenas aqueles que praticaram yoga em vidas anteriores (para aqueles que acreditam em tal teoria*) possuem um grande ímpeto para esse esforço, e nascem com uma forte urgência interior de praticar yoga, de maneira natural,
vigorosa e sem vacilações. Para a grande maioria dos aspirantes, o caminho do Yoga começa na incerteza, na dúvida e na falta de urgência interior. Não há nada de anormal nisso, nada que deva causar preocupação ou desespero.
O importante é começar de maneira decidida e com uma intenção pura. Quando isso acontece, todas as forças da natureza cooperam e ajudam o aspirante em seu esforço – mesmo quando aparentemente parecem estar bloqueando seu caminho. Muitas vezes a natureza testa o nosso empenho, fazendo aflorar nossa força e poderes ocultos. Precisamos aprender a perseverar diante das dificuldades; se formos paciente, encontraremos um caminho se abrindo à nossa frente, com oportunidades inesperadas surgindo de diferentes maneiras.
Fonte: Preparação para a Yoga, I.K. Taimni, Ed. Teosófica.
*comentário acrescentado pela professora.
“Siga sempre sua bem-aventurança, aquilo que você acha que vai fazê-lo feliz. Temos de aprender a abdicar da vida que planejamos para ter a vida que está esperando por nós”, Joseph Campbell.