“Talvez, se fôssemos mais honestos e admitíssemos que cada um de nós tem sua pobreza, seja ela econômica, afetiva, sentimental….talvez tivéssemos a certeza de que trabalhamos também para nos salvarmos de uma vida esvaziada de sentido. Pensando bem, não seria nada mal se cada pessoa que não ache sentido na sua vida produzisse algo de pragmático e significativo para a vida de outros humanos.”
(trecho do livro “O Humano no Mundo” de Débora Noal)
Inicio meu texto com esse pensamento que me pegou em cheio na atual fase da minha vida. Trabalho como instrutora de Yoga há alguns anos. No começo apenas ministrava aulas diárias para grupos de pessoas. Posteriormente comecei a formar outros professores. Muita gente formada hoje em dia foi apresentada ao mundo do Yoga através das minhas aulas. O leitor desavisado pode achar que “estou me achando”, que o que escrevo não passa de “falsa modéstia”, mas honestamente não se trata disso. A questão aqui é que essa introdução serve apenas para ilustrar um termo muito utilizado no Yoga denominado Dharma.
A palavra dharma refere-se a um conceito-chave que aparece nas religiões hinduístas, budistas, jainistas e no sikhismo. Não há tradução em uma única palavra desse termo para as línguas ocidentais. Ele pode ser traduzido como Lei Cósmica que sustenta toda a Criação, mas também pode ser entendido como “seu papel no mundo” ou “aquilo a que você veio”.
Bem, tive a felicidade suprema de descobrir aos 30 anos qual era o papel que me dá significância no mundo. Esse papel é o que me faz acordar tranquila e motivada de segunda a sexta. Continuando a criar projetos, “bolando” estratégias e até fazendo uma pós para melhorar o aprendizado dos meus alunos.
Mas, vejam bem, só consegui achar o meu caminho aos 30 anos de idade! Os anos anteriores foram pautados por incertezas, infelicidades, inseguranças e até por doenças. Eu detestava o que fazia, mas precisada da grana, óbvio! Contas a pagar. Mas sempre olhava no espelho e me perguntava: o que estava fazendo da minha vida?A vida não poderia se resumir somente aquilo! Então entendo perfeitamente quem veste a sua melhor roupa e põe uma música bem alta quando chega a sexta (acompanhada de uma coreografia, é claro!), mas quando chega o domingo à noite sente o coração apertar.
E o que dizer então das pessoas que sofrem? Do lado B do mundo que ninguém olha? Dos desvalidos, dos miseráveis, dos oprimidos… essa é a questão mais difícil de entender! Que dharma é esse? Como explicar e entender a maldade humana? Como aceitar que “tudo está dentro de um Plano Maior”? E antes que digam algo: eu acredito em Deus, mas ainda não entendi muito bem qual é a estratégia Dele, ok? Essas questões muito me assombram! Parafraseando a Débora Noal: “elas ainda me fazem sentir uma humana com ‘h’ bem minúsculo.”
Então, gostaria de dizer que “você pode, você consegue, que os limites estão em você… que não há limites!” Sinceramente acredito que tudo é possível. A questão é que o tempo, o tempo que vai levar para você encontrar o seu caminho… não sei. Ninguém sabe. Mas enquanto esse encontro com o seu dharma não acontece, volte à citação do início desse texto e pense: o que de prático, ou simples, posso fazer pelo outro? Às vezes um singelo “bom dia, boa tarde, boa noite”, já basta. Boas reflexões! Namastê.
– Dri Camargo